SOLUÇÃO
FINAL -4
O PREÇO DA
ARROGÂNCIA
O facto de
um político ter sido democraticamente eleito, não implica necessariamente que seja
democrata. Neste caso, estamos a falar do sistema e não da personalidade. E quando
os princípios da gestão política e o estilo de liderança da personalidade
eleita colidem com o estabelecido pelo sistema, a contradição resolve-se quase
sempre em prol do sistema, considerando o seu carácter duradoiro e o facto de o
funcionamento de toda a máquina do Estado e as funções que é chamada a exercer,
inclusive a realização de eleições, estarem nele assentes – o próprio Adolfo
Hitler tinha sido democraticamente eleito Chanceler da Alemanha, mas acabou por
se revelar um dos maiores ditadores da historia da humanidade.
Daí a minha
inabalável convicção de que, sendo reconhecidamente uma Ciência com os seus
objectos e métodos de estudo bem definidos, o exercício prático da actividade
política é acima de tudo uma arte em que a sobrevivência do artista se
condiciona as suas capacidades de inventar, inovar, improvisar, inclusive se
adaptar as realidades conjunturais que vão marcando o seu percurso e traçando a
linha mestra da imprescindível articulação entre o palco e a plateia. Ou seja,
a política, como aliás a vida no seu todo, é uma peça de teatro que não permite
ensaios e em que o artista deve aproveitar para cantar, chorar, dançar, rir e
viver intensamente o momento, antes que a cortina se feche e a peça termine sem
aplausos.
Um bom
exemplo disso foi o prematuro e inglório desmoronar do império de Domingos
Simões Pereira. Faltou-lhe dom artístico (humildade e nobreza e espírito), para
representar ao nível que as expectativas lhe auguravam, de chamar a si a
histórica responsabilidade de deslumbrar a plateia e salvar a peça duma
iminente derrocada - quando tudo parece perdido e a peça condenada ao fracasso,
o bom artista recorre á emendas de improviso, inclusive a pormenores absurdos
da vida, completamente descontextualizados da cena, para agradar o seu público
e arrancar um forte aplauso.
O facto de
sermos ou termos sido bons servidores, não implica necessariamente que
estejamos habilitados dos imprescindíveis requisitos para liderar. A história
da humanidade está repleta de registos de personalidades que passaram toda a
vida a preparar-se para serem excelentes servidores nas Instituições e
Organizações em que foram chamados a fazê-lo, mas que na hora de liderar,
revelaram-se autênticos desastres. Isto porque o servidor, limita-se a inserir
num contexto muito bem organizado e funcional, com uma liderança e gestão
previamente bem concebidas, dotado de eficientes mecanismos e meios de tomada e
implementação das decisões, factos que lhe permitem aplicar eficientemente os
seus dotes de servidor, sem que para isso se responsabilize pelo funcionamento
do sistema no seu todo e muito menos pela gestão dos recursos humanos e outros à
ele afectos.
Na
Guiné-Bissau, infelizmente, em virtude do elevado grau de descrédito do povo
nos seus representantes (cambada de corruptos, delinquentes, pedófilos,
polígamos, alcoólicos e intelectualmente falhados), muitos acreditam que a
tábua de salvação nacional reside nos nossos concidadãos a trabalhar além
fronteiras, sobretudo os Quadros que estão a servir nas Organizações e
Instituições Internacionais, pela imprescindibilidade dos valores que
impreterivelmente estariam em melhores condições de acrescentar à nossa
sociedade (novos saberes, intransigência, disciplina e organização no
trabalho), contribuindo assim positivamente para o esforço nacional do
desenvolvimento socioeconómico. Entretanto, estamos a lidar com realidades
completamente diferentes: enquanto trabalham lá fora, os nossos Quadros limitam-se
a cumprir ordens e quando regressam a casa querem dirigir, muitas vezes sem
qualquer experiência política e completamente desfasados da realidade nacional
e portanto sem quaisquer argumentos plausíveis para liderar o processo
Esta
natureza arrogante, que infelizmente constitui a nossa imagem de marca, mas que
tentamos de todo o jeito ocultar, acaba sempre por transbordar e provocar um
mal-estar no seio dos que nos rodeiam, demonstrando que, afinal, os que estão
fora são exactamente iguais aos que o povo quer enxotar para longe e que a
única diferença entre uns e outros é geográfica (os de Cá e os de Lá). É essa
tão vincada arrogância que apaga da nossa mente a memória da nossa origem, de
quem somos de facto, do Mundo em que estamos inseridos e das relações de
estreita proximidade e interdependência que nele se estabelecem e fazem de nós
filhos adoptivos de toda a Tabanca, profundamente comprometidos com os
problemas da nossa comunidade, cuja sobrevivência resulta do esforço colectivo
e onde todos ensinam e aprendem ao mesmo tempo, mas com muita humildade.
A capacidade
de liderança cultiva-se (compilando os aspectos positivos das lideranças
precedentes) e o Líder é realmente um servidor, mas um servidor humilde que se insere
e se identifica com a comunidade que lidera, com a sua problemática e seus interesses,
com tudo quanto preocupa a mente e o coração dos seus membros, chamando à si a
enorme responsabilidade de transformar as valências disponíveis num instrumento
capaz de fazer a diferença na vida das pessoas.
Durante a sua curta permanência no Poder (1
ano), Domingos Simões Pereira cometeu tantos erros que fazem dele o político
mais falhado da história da nossa jovem democracia. Senão vejamos:
a) Integrou a denominada “Plataforma”, para chegar ao Poder á todo o
custo e dotar-se de
instrumentos que lhe permitam perseguir os que no seu entender perigavam as
suas macabras intenções de tudo controlar e tudo dominar, em prol dos seus
interesses pessoais, familiares e corporativos;
b) Suprimiu os muçulmanos da lista do Comité Central e do Bureau
Político do PAIGC, por considerá-los potenciais aliados de Braima Camará na
luta pelo Poder;
c) Exigiu fidelidade dos militantes do PAIGC à sua pessoa, em
detrimento da natural fidelidade que um militante deve manter em relação aos
Estatutos e princípios do seu Partido;
d) Elaborou unilateralmente as listas do Comité Central e do Bureau
Político do seu Partido, excluindo delas os presumíveis suspeitos de
infidelidade política em prol de familiares e amigos, numa atitude inédita que
deixava antever tendências para estabelecer controlo absoluto sobre as
estruturas partidárias;
e) Envolveu-se directamente na escolha do candidato presidencial do
seu Partido às últimas eleições gerais, com o intuito de impor ao Partido o
Candidato da sua preferência, em detrimento dos demais, por ele considerados
inconvenientes, pelo simples facto de serem alheios ao seu círculo de
convivência, interesses e confiança pessoais;
f) Durante a constituição do seu Governo, DSP excluiu
peremptoriamente todos os Quadros do Partido que durante a campanha para o
Congresso de Cacheu, apoiaram outros candidatos, sobretudo os que se
identificaram com o Projecto “Por uma Liderança Democrática e Inclusiva”,
liderado por Braima Camará;
g) Em consequência das últimas Eleições Gerais, Domingos Simões
Pereira decidiu ignorar a maioria absoluta que o PAIGC obteve, fruto dos
esforços e da activa participação dos seus militantes e simpatizantes na
campanha eleitoral, para constituir uma maioria absoluta da sua conveniência –
uma maioria absoluta fictícia, que lhe permitia excluir os 15 Deputados do seu
Partido, afectos ao projecto “Por uma Liderança Democrática e Inclusiva”,
liderado por Braima Camará. Para o efeito, recorreu inclusive aos Partidos de
oposição, convidando-os a participar no Governo em troca do seu incondicional
apoio parlamentar, o que na prática se traduzia num total isolamento e redução
à insignificância política dos referidos Deputados, que entretanto, embora sem
quaisquer efeitos práticos e num gesto de repúdio, votavam sempre contra as
iniciativas e propostas do Governo. E só quando, em virtude da sua arrogância,
o PRS (maior Partido de oposição), lhe retirou o seu apoio e por força do destino
se aliou à esses mesmos Deputados (os 15) numa declarada intenção de constituir
uma nova maioria parlamentar e derrubar o seu Governo, é que Domingos Simões
Pereira se lembrou de evidenciar a disciplina de voto e demais regras que
sempre espezinhou em nome duma suposta confiança política;
h) A apresentação por Domingos Simões Pereira daquilo que designou de
“Governo de Excelência” deixou reticente até os seus mais fiéis e radicais
apoiantes relativamente às suas reais intenções de imprimir nova dinâmica e
transparência a governação do País e lançar as sementes da construção de um
Estado moderno, alicerçado nos valores fundamentais da democracia, do direito e
das liberdades individual e colectiva, enquanto condições imprescindíveis à
paz, à estabilidade sociopolítica, a solidariedade e a fraternidade nacional. Um
Governo composto essencialmente por indivíduos de reputação duvidosa e que
acabou por ficar na história como o mais corrupto de sempre, elencado por
familiares, amigos e conhecidos e por nomes muito sonantes da podridão
nacional, como Nado Mandinga, Idelfrides Fernandes (Dide), Mário Lopes (Maruca),
Daniel Gomes, Tchitche, Bifa, etc. etc., que se celebrizaram no saque e
depilação do erário público – ATÉ DÁ
NOJO!;
i) A tenacidade com que DSP saiu em defesa dos elementos do seu
Governo, indiciados pelo Ministério Público de crimes de corrupção activa e
branqueamento de capital, desafiando e perturbando o normal funcionamento do
Poder Judicial, desgastou profundamente a sua imagem aos olhos do nosso povo e
da comunidade internacional, catalisando a sua queda e consequente
desaparecimento do panorama político nacional. Ao estilo dos grandes ditadores,
DSP preocupava-se fundamentalmente em cultivar uma imagem positiva no Mundo
fora, enquanto internamente a maioria absoluta do povo exigia a sua demissão.
A euforia de
Cacheu, já era (faz parte do passado). A encomendada vitória no Congresso da
vergonha, transformou-se numa derrota para o próprio PAIGC e numa autêntica
calamidade nacional. Nunca se viu tamanha arrogância, culto de personalidade,
ambição pelo Poder Absoluto e sobretudo muita, mas muita ganância mesmo pelo
enriquecimento… e… da forma mais ilícita e descarada que alguma vez se assistiu
neste País.
O permanente
adiar da Guiné-Bissau resulta duma realidade muito simples: “OS QUE PODEM NÃO QUEREM E OS QUE QUEREM
NÃO PODEM”. Domingos Simões Pereira não pode e a ruptura com os que o
projectaram para a ribalta do Poder e o colocaram no pedestal da glória em
Cacheu (Adja Satú Camará, Baciro Djá, Abel da Silva, etc.), deixa bem evidente
que ele quer, mas que infelizmente não foi talhado para liderar, em virtude da
sua manifesta incapacidade de dialogar com os seus parceiros, estabelecer e
preservar alianças à médio e longo prazos, factores que contribuíram para
catalisar a queda livre da sua vertiginosa ascensão política.
Domingos
Simões Pereira ainda não percebeu que o impasse institucional vigente na
Guiné-Bissau deve-se essencialmente ao seu comportamento político irresponsável
e continua tranquilamente na mesma senda, de confrontação com o Presidente da
República, priorizando discursos açucarados e encantadores fora de portas,
denegrindo a imagem do Supremo Magistrado da Nação, enquanto que ao nível
nacional, continua descartando o diálogo e a concertação política como meios de
coesão e do estabelecimento da imprescindível plataforma de entendimento que
visa ultrapassar o clima de crispação que caracteriza as relações
institucionais na Guiné-Bissau e que ameaça desembocar num drama nacional – os
poucos que nele ainda acreditavam, estão completamente desgastados com a
tenacidade e o descaramento com que se agarra ao Poder, adiando o País.
O PRESIDENTE
DA REPÚBLICA DEVE DECIDIR E JÁ!!! SOB PENA DE… A HISTÓRIA TEM DESTAS COISAS,
SUA EXCELÊNCIA!
Bem-haja a
Guiné-Bissau!
EDP- um grande abraço à todos!
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